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sábado, 12 de julho de 2014

QUEM É ANÍBAL CAVACO SILVA? - 4



Alexandra Lucas Coelho foi, em 07 Abril 2014, a vencedora do Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores (APE) com o romance “e a noite roda”.

O Grande Prémio é patrocinado pela Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, pela Câmara Municipal de Grândola, a Fundação Calouste Gulbenkian, a Imprensa Nacional-Casa da Moeda, o Instituto Camões, a Sociedade Portuguesa de Autores.

"A palavra a Alexandra Lucas Coelho, a mulher sem papas na língua. Aliás, agora que falo nisto, acho que está mas é na hora de eu formar um partido, o partido das pessoas sem papas na língua. PPSPM. A Alexandra seria das primeiras pessoas que eu convidaria. Ah mulher valente que não as poupa!"
"Um discurso que levanta muitas pedras e as atira para cima da mesa. Perigosa, perigosa, ela. Alexandra Lucas Coelho, que recebeu o prémio APE pelo romance E a Noite Roda, é bem o exemplo de como são perigosas as mulheres que escrevem"
in Um jeito manso - blog

"Para além de um belo texto sobre a escrita literária, é também uma vigorosa e indignada denúncia das políticas e dos medíocres personagens políticos que hoje mais directamente protagonizam o encaminhamento do país para o desastre" - in triplov blog Informação



Por ALEXANDRA LUCAS COELHO*




Discurso de  Alexandra Lucas Coelho na cerimónia de entrega do prémio APE pelo seu romance "E a Noite Roda".

«Quero agradecer em primeiro lugar à equipa da Tinta-da-china, minha casa, Bárbara Bulhosa, Inês Hugon, Vera Tavares, Madalena Alfaia, Rute Dias, Pedro Serpa.
Agradeço em seguida…
(…)
Este prémio é tradicionalmente entregue pelo Presidente da República, cargo agora ocupado por um político, Cavaco Silva, que há 30 anos representa tudo o que associo mais ao salazarismo do que ao 25 de Abril, a começar por essa vil tristeza dos obedientes que dentro de si recalcam um império perdido.
E fogem ao cara-cara, mantêm-se pela calada. Nada estranho, pois, que este presidente se faça representar na entrega de um prémio literário. Este mundo não é do seu reino. Estamos no mesmo país, mas o meu país não é o seu país. No país que tenho na cabeça não se anda com a cabeça entre as orelhas, “e cá vamos indo, se deus quiser”.
Não sou crente, portanto acho que depende de nós mais do que irmos indo, sempre acima das nossas possibilidades para o tecto ficar mais alto em vez de mais baixo. Para claustrofobia já nos basta estarmos vivos, sermos seres para a morte, que somos.
Partimos então do zero, sabendo que chegaremos a zero, e pelo meio tudo é ganho porque só a perda é certa.
O meu país não é do orgulhosamente só. Não sei o que seja amar a pátria. Sei que amar Portugal é voltar do mundo e descer ao Alentejo, com o prazer de poder estar ali porque se quer. Amar Portugal é estar em Portugal porque se quer. Poder estar em Portugal apesar de o governo nos mandar embora. Contrariar quem nos manda embora como se fosse senhor da casa.
Eu gostava de dizer ao actual Presidente da República, aqui representado hoje, que este país não é seu, nem do governo do seu partido.
É do arquitecto Álvaro Siza, do cientista Sobrinho Simões, do ensaísta Eugénio Lisboa, de todas as vozes que me foram chegando, ao longo destes anos no Brasil, dando conta do pesadelo que o governo de Portugal se tornou: Siza dizendo que há a sensação de viver de novo em ditadura, Sobrinho Simões dizendo que este governo rebentou com tudo o que fora construído na investigação, Eugénio Lisboa, aos 82 anos, falando da “total anestesia das antenas sociais ou simplesmente humanas, que caracterizam aqueles grandes políticos e estadistas que a História não confina a míseras notas de pé de página”.
Este país é dos bolseiros da FCT que viram tudo interrompido; dos milhões de desempregados ou trabalhadores precários; dos novos emigrantes que vi chegarem ao Brasil, a mais bem formada geração de sempre, para darem tudo a outro país; dos muitos leitores que me foram escrevendo nestes três anos e meio de Brasil a perguntar que conselho podia eu dar ao filho, à filha, ao amigo, que pensavam emigrar.
Eu estava no Brasil, para onde ninguém me tinha mandado, quando um membro do seu governo disse aquela coisa escandalosa, pois que os professores emigrassem. Ir para o mundo por nossa vontade é tão essencial como não ir para o mundo porque não temos alternativa.
Este país é de todos esses, os que partem porque querem, os que partem porque aqui se sentem a morrer, e levam um país melhor com eles, forte, bonito, inventivo. 
(...)
Este país é do Changuito, que em 2008 fundou uma livraria de poesia em Lisboa, e depois a levou para o Rio de Janeiro sem qualquer ajuda pública, e acartou 7000 livros, uma tonelada, para um 11º andar, que era o que dava para pagar de aluguer, e depois os acartou de volta para casa, por tudo ter ficado demasiado caro. Este país é dele, que nunca se sentaria na mesma sala que o actual presidente da República.
E é de quem faz arte apesar do mercado, de quem luta para que haja cinema, de quem não cruzou os braços quando o governo no poder estava a acabar com o cinema em Portugal. Eu ouvi realizadores e produtores portugueses numa conferência de imprensa no Festival do Rio de Janeiro contarem aos jornalistas presentes como 2012 ia ser o ano sem cinema em Portugal. Eu fui vendo, à distância, autores, escritores, artistas sem dinheiro para pagarem dívidas à segurança social, luz, água, renda de casa. E tanta gente esquecida. E ainda assim, de cada vez que eu chegava, Lisboa parecia-me pujante, as pessoas juntavam-se, inventavam, aos altos e baixos.
Não devo nada ao governo português no poder. Mas devo muito aos poetas, aos agricultores, ao Rui Horta que levou o mundo para Montemor-o-Novo, à Bárbara Bulhosa que fez a editora em que todos nós, seus autores, queremos estar, em cumplicidade e entrega, num mercado cada vez mais hostil, com margens canibais.
Os actuais governantes podem achar que o trabalho deles não é ouvir isto, mas o trabalho deles não é outro se não ouvir isto. Foi para ouvir isto, o que as pessoas têm a dizer, que foram eleitos, embora não por mim. Cargo público não é prémio, é compromisso.
Portugal talvez não viva 100 anos, talvez o planeta não viva 100 anos, tudo corre para acabar, sabemos. Mas enquanto isso estamos vivos, não somos sobreviventes.»


Perante as criticas de Alexandra Lucas Coelho a Cavaco Silva e ao governo PSD/CDS-PP, que acusou de mandar embora os portugueses como se fosse “senhor da casa”, Jorge Barreto Xavier hostilizou a escritora, afirmando que a mesma deveria “estar grata por estarmos em democracia” e por" poder dizer o que disse e que deveria agradecer ao governo pelo prémio que estava a receber".

"Barreto Xavier, um sujeitinho pequenino e infantilmente primariozinho, na entrega do Prémio à Escritora e Jornalista Alexandra Lucas Coelho", in Um jeito manso - blog






Na foto (arquivo): O Presidente da Republica, Cavaco Silva, entrega o Grande Premio Gazeta as jornalistas Cândida Pinto (c) e Alexandra Lucas Coelho, na cerimonia realizada nas ruinas do Convento do Carmo, Quarta-feira, 13 de Setembro de 2006, em Lisboa.
João Relvas/ lusa



*Alexandra Lucas Coelho nasceu em Dezembro de 1967, estudou teatro e trabalhou na rádio durante 10 anos. É jornalista do Público desde 1998. Recebeu prémios de reportagem pelo Clube Português de Imprensa, Casa da Imprensa e o Grande Premio Gazeta em 2005.
Publicou quatro livros de reportagem/viagem: Oriente PróximoCaderno AfegãoViva México eTahrir  – os três últimos publicados no Brasil pelas editoras Tinta Negra, Tinta da China Brasil e Língua Geral, respectivamente.
É a autora do blogue Atlântico Sul onde vai colocando as suas crónicas, escritas originalmente para o jornal Público 
Estava onde o mundo parecia mudar: Moscovo, Afeganistão, México, Israel, Palestina, Egito, Brasil. 
Mora no Alentejo.

E muito possivelmente será filha de um dos irmãos (Eduardo, Ernesto António, Carlos Maria ou João Manuel) de Maria E de M Lucas Coelho D da F., minha colega de turma na Escola Regional do Colégio da Cerdeira. 
Porém, não encontro qualquer referência aos ascendentes...

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